BIG FISH - O contador de histórias

OS MITOS E A BÍBLIA SAGRADA

Quem é capaz de contar uma história exatamente como ela aconteceu? Sem nenhum vestígio de pessoalidade ou subjetividade?

No filme Big Fish o protagonista era conhecido por suas histórias fantásticas, exageradas, aumentadas, e supostamente inventadas. O senso comum das pessoas entende as histórias fantásticas assim: elas não são verdadeiras. Servem apenas para entreter. E no filme não era diferente: o próprio filho do protagonista pensava dessa forma. Desde criança ele havia bebido avidamente das histórias de seu pai, jamais questionando a veracidade daquelas informações. Ao atingir certa idade, contudo, percebeu que aquelas histórias fantásticas não poderiam ser verdadeiras. O castelo de areia desmoronou. De herói seu pai se transformou num mentiroso. Na melhor das hipóteses, num contador de histórias... Porém, no fim do filme, diante de uma enfermidade mortal que acometeu seu pai, o rapaz fez uma importante descoberta. Ele descobriu que uma das histórias do velho era verdadeira, embora os detalhes fossem exagerados. Então subitamente ele foi tomado por um esclarecimento que o levou a pensar: “Será que todas as histórias do meu pai realmente aconteceram?”. E de fato ele acabou por descobrir que sim, todas aquelas histórias realmente haviam acontecido, embora tivessem recebido uma roupagem de detalhes fantásticos característicos de seu pai. Pego de assalto, o rapaz passou a refletir sobre o seu modo de pensar: “será que meu pai estava errado na maneira de contar suas histórias ou eu é que estava errado na maneira de entendê-las? Será que alguém está errado em revestir de fantástico uma história que para ele, no contexto em que ela aconteceu, realmente fora inesquecível?”. E assim, o rapaz acabou, ele mesmo, se tornando um contador de histórias.

O que nos chama a atenção num filme como este é que ele vai na base da construção do nosso modo de pensar. Raciocinamos segundo o padrão da historiografia moderna. É preciso ser impessoal, imparcial, objetivo e preciso nos detalhes. Mas, em primeiro lugar eu pergunto: existe tal coisa? Será que existe tal objetividade? Existe alguém que consegue enxergar os fatos fora da moldura psicológica que lhe dá forma: a sua cultura, sua educação, sua criação, o seu tempo, a sua própria vida? Existe alguém neste planeta capaz de ser absolutamente imparcial, impessoal, objetivo, sem qualquer vestígio de subjetividade? Se existe devemos ser chamados a adorá-lo. Mas a questão mais importante é a seguinte: vale a pena o preço pago por esta pretensa objetividade?

Lembremos das histórias do passado que hoje são taxadas de fantasiosas. Arquimedes estava tomando banho em sua banheira quando descobriu um dos princípios da hidrostática; então pulou da banheira e saiu pelas ruas da Grécia nu, gritando: "Eureka, Eureka! Consegui, Consegui!". Isaac Newton estava sentado embaixo de uma macieira apreciando o céu quando subitamente foi atingido na cabeça por uma abençoada maçã, que o fez criar a brilhante da Teoria da Gravitação Universal. Que importa que os detalhes dessas histórias não são exatos? Que importa que não existiam macieiras na cidade natal de Isaac Newton? Isso é realmente relevante, a não ser para aqueles que querem levantar a história da maçã na Inglaterra? O que percebo como mais importante é que são justamente estes detalhes fantasiosos que imortalizam um fato indiscutivelmente verdadeiro e de suma importância na mente dos ouvintes. O que percebo como mais importante é que estas histórias ficaram por séculos gravadas na mente daqueles que as escutaram, enquanto que os registros impessoais da historiografia moderna desapareceram como uma neblina da memória das pessoas. Este é o preço pago pela pretensa objetividade: o esquecimento.

Acontecimentos fantásticos merecem historias fantásticas. Porque o simples relato dos fatos não pode conter toda magnitude destes acontecimentos. É assim que criaram-se os mitos do passado, que hoje são considerados fantasiosos e sem valor. Hoje, o que geralmente acontece, por incrível que pareça, não é alguém exagerar enquanto conta uma história; é o contrário: alguém depreciar um fato de suma importância, reduzindo-o ao nível de um relato frio e impessoal. O que eu gosto na Bíblia Sagrada é que não existe esta preocupação helênica dos seus autores em serem objetivos e impessoais. A História, na Escritura Sagrada, é contada de modo diferente. Os escritos milenares contradisseram frontalmente os critérios da historiografia moderna, mas para garantir que sua poderosa mensagem ficasse gravada para sempre no espírito daqueles que a leram.

2 comentários:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Márcia disse...

Assisti ao filme, e é maravilhoso,realmente quem conta uma história como realmente ela acontece.Amei e quero assistir novamente.